

Candeia, sua obra, sua história pessoal e profissional, seu legado, as lutas artísticas e sociais que empreendeu, são os aspectos retratados na peça. Além dos personagens centrais como Candeia, a esposa Leonilda e a amiga Firmina, são representados personagens e parceiros ilustres como Waldir 59, Mazinho, Bretas, Casquinha, Elza Soares, Clara Nunes entre outros bambas. O ponto central das cenas é a casa de Candeia, seu terreiro com os sambistas (em cena e ao vivo, representados pelo Coletivo Terreiro de Mauá, sob o comando de Edinho Carvalho, que assina a direção musical). São retratadas diversas passagens importantes da trajetória do sambista, Vemos um Candeia truculento, fama que lhe é atribuída após sua entrada na polícia, a vitória da Portela com o enredo “Seis Datas Magnas” (primeiro título conquistado pelo compositor aos 17 anos de idade) e a precursora coreografia da “Ala dos Impossíveis”, dentre muitas outras histórias memoráveis! A encenação ganha força, a partir dos tiros que levaram Candeia para a cadeira de rodas, o que foi um divisor de aguas na sua maneira de pensar e agir, interferindo diretamente na sua poesia e maneira de compor samba, além de base para sua efetiva contribuição ao texto do Manifesto da G.R.A.N.E.S. Quilombo. O samba, utilizado por Candeia como forma de resistência e valorização da cultura negra popular, é parte essencial da obra e se faz ouvir em canções como “Pintura sem Arte” e “Testamento de Partideiro” , além de outras composições de Candeia que ficaram eternizadas nas vozes de Cartola (“Preciso me Encontrar”) e Clara Nunes (“O Mar Serenou”). Candeia ainda é atual e inspira até hoje, sambistas pelo Brasil. Propõe também uma reflexão sobre temas atuais como: machismo, abuso de autoridade, apropriação cultural e também, aspectos positivos estimulando a produção coletiva e empoderamento do negro. Colocar essa biografia musical à disposição do público é uma contribuição de altíssima relevância para a instituição chamada SAMBA, o maior patrimônio imaterial do povo brasileiro. O espetáculo teve sua temporada de estréia, num esforço coletivo e sem patrocínio, no Teatro Oficina (SP), nos meses de outubro e novembro/17, sempre com lotação máxima e sessões extras.
Foi sentado em cadeira de rodas, após levar tiros em decorrência de violência de trânsito quando era policial, que Antônio Candeia Filho (1935-1978) escreveu “De Qualquer Maneira”. Ele compôs essa e outras pérolas do samba de raiz, além de mudar as histórias, principalmente, do partido alto, uma de suas bandeiras e do Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, sendo um dos maiores defensores do legado deixado por Paulo da Portela, Caetano e Rufino. Com o objetivo de dialogar com os ideais de Candeia e defender um protagonismo, o elenco é formado majoritariamente por artistas negros. Para o diretor Leonardo Karasek, “É samba na veia, É Candeia” ultrapassa as definições de um musical e se encaixa perfeitamente como uma peça biográfica. “O cenário reforça todo simbolismo da trajetória de Candeia como homem negro e crítico social. A estruturação da montagem reforça o sentido da imersão do público no universo do compositor. E, nesse caminho, convidamos a todos a se transportarem para a releitura do mundo nos olhos de Candeia, com todas suas facetas e vivências como corpo e voz de movimento e atuação política por meio do samba. Candeia era alguém que não se rendia e não se vendia. Não fazia o que os outros queriam ouvir, era fiel às suas convicções, tinha orgulho de ser periférico, não precisava de exposição e não aceitava se transformar para ser aceito. Muitas pessoas não conhecem quem foram os militantes negros há quarenta anos. Além dessas questões, teve a militância do Candeia em relação às escolas de samba. A peça tem trechos que falam sobre isso, que antigamente, as pessoas das escolas de samba faziam por amor, no barracão. Esses negros que fizeram a história das escolas por amor – os compositores, aderecistas – começaram a ser postos de lado porque os novos profissionais formados nas escolas de Belas Artes levaram a ‘intelectualidade acadêmica’ para dentro da escola de samba, bem como os interesses do capital. Candeia questionava que os negros, pobres e suburbanas foram jogadas de lado.
“É Samba na Veia, é Candeia” tem papel fundamental na releitura do compositor como crítico dos mecanismos de apropriação cultural dos valores e processos históricos de identidade negra. Candeia, quando fundou o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo, juntamente com Wilson Moreira e Paulinho Viola, posicionou-se para além da música. Ele não somente se colocou contrário ao processo de industrialização cultural do samba, como enxergou o samba como uma ilha de resistência de valores identitários negros diante desse processo. E, no palco, este lado do poeta Candeia, idealista e militante, se faz presente.
Enaltecer esse legado, levar o público do samba para o teatro, para que se reconheçam e se orgulhem na sua própria história e também levar o público do teatro para conhecer esse importante capítulo da cultura popular é um dos objetos centrais desse projeto.
Ficha Técnica
Texto: Eduardo Rieche Direção: Leonardo Karasek Direção Musical: Edinho Carvalho e Abel Luiz Preparação Vocal: Daisy Cordeiro Arranjos: Abel Luiz Planejamento de som: Pedro Romão Coreografia: Jefferson Brito Produção: Núcleo Coletivo das Artes Figurino: Gabriela Rocha Cenário: Raifah Monteiro Iluminação: Luana Della Crist Ilustração: Bruno Will Fotos: Osmar Moura Criação Gráfica: Zeca Dâmaso Assistente de Direção: Augusto Vieira Assessoria de Imprensa: Baobá Comunicação Divulgação Digital: Eduardo Araújo Elenco: Danilo Ramos, Denise Aires, Jair de Oliveira, Jefferson Brito, Jose Nelson Junior, Josi Souza, Leo Dias, Marcelo Dalourzi, Rita Teles, Suelen Ribeiro, Sueli Vargas, Viviane Clara e Wallace Andrade Músicos: Brito da Cuíca, David Silveira, Didi Carvalho, Danilo Ramos, Eder Ventura, Edinho Carvalho, Hosana Meira, Jader Morelo, Jefferson Motta, Leo Dias, Marcelo Glick, Marlene Oliveira, Ocimar Dias e Ronaldo Nunes Performance: Dan Rodrigo
Biografias

Leonardo Karasek
Formou-se em Direção Teatral no Curso Superior de Artes Célia Helena em São Paulo. Realizou uma montagem inspirada em “O Jardim das Cerejeiras”, de Anton Tchekhov. É pós-graduado em literatura brasileira pela UFRGS, de Porto Alegre. Cursou cinema na Universidade Federal Fluminense, e participou de cursos de roteiro em cinema com Luiz Carlos Maciel, na Fundição Progresso, e com Jackson Saboya. Com a experiência adquirida, roteirizou e dirigiu os vídeos “Da Vida Nada se Leva”, “O Castigo” e “Pai”. Como ator, participou de diversos cursos de teatro: Teatro Tablado, Casa da Gávea e Casa de Artes de Laranjeiras (RJ), Teatro Ágora e Grupo TAPA (SP); Estudou com professores renomados como Moacir Góes, Silvia Soter, Rubens Correa, Gilberto Gawronsky, Maria Esmeralda, Ian Michalski, Maria Clara Machado, Louise Cardoso, Bernardo Jablonsky, Ricardo Kosovsky, Luís Carlos Tourinho, Bia Junqueira, Nara Kaiserman, Domingos de Oliveira, Celso Frateschi, Brian Penido. Morou dois anos em Nova Iorque, EUA, onde cursou o Lee StrasbergInstitute e o HB Studio (Nova Iorque – EUA). A experiência nos palcos vivenciou em montagens como “O Despertar da Primavera” – Teatro Tablado(RJ), “As Aventuras de Tom Sawyer” – Teatro Ziembinsky(RJ), “Twelfth Night” – Kensington Library – Londres, “Our Town” – Cumberland Regional High School – Nova Jersey – EUA. Na televisão participou de episódio de “Você Decide”, na Rede Globo.

Terreiro De Mauá
Fundado em 2002, atualmente, o conjunto é composto por 13 integrantes. Todos tocam, cantam, pesquisam e dirigem os eventos em conjunto. Eles mantêm uma sede própria na cidade de Mauá, o Centro Cultural Dona Leonor, onde promovem suas rodas de samba, saraus formações e eventos culturais, além de ser sede do Bloco de Samba “Pega o lenço e Vai”, que tem como objetivo trazer a história do Negro no Brasil através de sambas inéditos. Em geral, executam seus concertos de forma acústica, sem amplificadores, com o objetivo de se aproximar da forma tocada no passado. José Nelson Júnior – Ator, Graduado em Artes Cênicas pela Universidade São Judas Tadeu (USJT). Integrou o Grupo Parafonia atuando como ator, codiretor e cenógrafo num processo de pesquisa e experimentos cênicos. Atuou como palhaço (clown) e criador de figurinos pela Cia Desajuste. Atualmente é ator integrante a Companhia Alvorada de Teatro e pesquisador da importância do figurino para a composição do personagem

Marcelo Dalourzi
Ator formado pela Escola Livre de Teatro ELT. Atuou com o grupo paulistano Pequeno Teatro de Torneado. Iniciou-se na carreira teatral em 2007, no grupo Kerigma, com “A Paixão de Cristo“. Participou dos experimentos “Brechtianos“ sob a orientação do arte-educador Fernando Faria. Participou como ator convidado na segunda temporada da série ‘9MM’ São Paulo, no canal da fox, episódio ‘’Açúcar ou Adoçante“. Integrou o time de atores da comedia “ De Rabo Preso“. Atualmente esteve em cartaz no Teatro oficina com o musical “É samba na veia, é Candeia“.

José Nelson Júnior
Ator, Graduado em Artes Cênicas pela Universidade São Judas Tadeu (USJT). Integrou o Grupo Parafonia atuando como ator, codiretor e cenógrafo num processo de pesquisa e experimentos cênicos. Atuou como palhaço (clown) e criador de figurinos pela Cia Desajuste. Atualmente é ator integrante a Companhia Alvorada de Teatro e pesquisador da importância do figurino para a composição do personagem.

Wallace Andrade
Ator, diretor, escritor e produtor áudio visual. Atuou nas peças “Cacilda“, “Dr. Fausto“, “A Memória dos Chapéus“, “Pelas frestas da Cortina“, “O Santo Dialético“ e “Que Brasil é este?“. Produziu e dirigiu os documentários“E ai, cadê o respeito?“; os curtas documental “Valo Velho em 10 minutos“ e “Missionária em 10 minutos“ e os curtas metragem “Elo“, “E agora?“. Produz e dirige a série musical para internet “Vozes Negras“ que consiste na gravação de artistas independentes da cena musical brasileira.

Edinho Carvalho
Edinho faz parte de uma família de músicos, onde desenvolveu sua percepção musical, aprendeu a apreciar o samba de raiz, e a tocar cavaquinho. Participou da bateria da Escola de samba Leões de Ouro, de Mauá, Ona qual tocava tamborim. Integrou alguns conjuntos de samba da cidade até conhecer os músicos com quem veio a fundar, em 2002, o Terreiro de Mauá. No conjunto, do qual participa desde então, tem a função de organizar o repertório e cuidar da harmonia musical. O Já tocou com sambistas de renome como Monarco, Xangô da Mangueira e Jorginho do Império. Edinho Carvalho
também é pesquisador da história do samba de raiz e das
formas como ele foi executado.

Denise Aires
Atriz e arte educadora, formada pela USJT e especialista em Dança e Consciência Corporal pela FMU. Pós graduanda em Africanidades e Cultura Afro-brasileira. Compõe o elenco da peça “É Samba na Veia, É Candeia“e integra o Coral da Casa das Rosas. Em 2014 participou da Cia Metrópole de Teatro (teatro-escola) com o espetáculo“Fazenda Esperança“ e anteriormente o Grupo Redimunho de Investigação Teatral participando dos espetáculos: “Marulho: o caminho do rio…“e “A Casa“, ambos em 2011. No cinema participou do curta metragem “Atlântida: eu também vim de lá…“

Léo Dias
Formado em educação física com especialização em lazer e recreação, educador e jovem brincante no Instituto Brincante. Produtor e idealizador dos projetos “Canto e Prosa“ e “Eu Sou o Samba Vocês me Conhecem?“. É integrante fundador do agrupamento “Samba de Terreiro de Mauá“ e do “Bloco de Samba Pega o Lenço e Vai“ bem como organizador do Centro Cultural Dona Leonor. Formado na Rádioficina em Locução Plena. Atua como locutor, apresentador, animador, e mestre de cerimônias – formado pelo SENAC e Celebrante Social. Compõe o elenco e o corpo musical da peça “É Samba Veia é Candeia`

Jefferson Brito
Ator, bailarino e arte educador. É formado em teatro pela USJT e em direção teatral na São Paulo Escola de Teatro. Co-fundador da Cia. Colhendo Contos e Diáspora Negra, atua na peça narrativa “Contando África em Contos“, além de compor o elenco da peça “É Samba na Veia, É Candeia“. No cinema atuou em 2013 no filme “O Pacote“ onde recebeu prêmio de melhor ator no Brasil e no Canadá. Como bailarino passou por diversas escolas, entre elas escola de dança de São Paulo (EDASP) e atuou como bailarino intérprete no “Coletivo Afro Sol de Danças Africanas“, no espetáculo “Ensaio sobre celeiro“.

Suelen Ribeiro
Artista e produtora da Sabiagem de criação arteira, cofundadora do grupo teatral As Doloridas. Atua no espetáculo infantil Era uma vez, e a história se fez! É contadora de histórias e idealizadora do projeto “Histórias de menines“ sobre gênero e infância. Integra a CIA Alvorada no musical É samba na veia, é Candeia (2017). Foi por dois anos artista educadora do Programa de Iniciação Artística da prefeitura de São Paulo- PiÁ. Entre seus professores: o griot Hassane Kouyaté (BUR), Avner Eisenberg (EUA), e Juliana Jardim.

Viviane Clara
Atriz e dançarina. Integrou a Comissão de Frente da G.R.C.E.S. Mocidade Alegre em 2014, 2015 e 2016. Como atriz e dançarina integrou o elenco do espetáculo “Brasilidade Nagô“ com o Grupo Cultural Odara, Concluiu Artes Cênicas na Escola de Atores Wolf Maia em 2017. Com o texto autoral intitulado Ossos do Oficio, apresenta sua Performance destacando apresentações no Teatro Oficina, 2017 e Virada Cultural SP em 2017. Esteve em cartaz com a Peça É Samba na Veia, É Candeia, Teatro Oficina em 2017.

Abel Luiz
É um dos fundadores do Samba do Trabalhador, participando como músico, arranjador e compositor do primeiro CD e DVD desta comunidade. Faz a coordenação musical do Bloco Carnavalesco Loucura Suburbana, primeiro, no Brasil e no Mundo, a ações de reunir cultura, carnaval, território e saúde mental, ao longo de seus 16 anos de atividade. Atualmente, integra o Projeto Criolice, Roda de Samba e Feira Cultural sediada na arena Fernando Torres; compõe o Trio Choro Novo, e o Duo Onze Cordas – dedicando-se à diferentes expressões d a música popular, instrumental e regional do Brasil, onde música, cultura, saúde, educação e construção de conhecimento sejam pensadas e realizadas de forma integrada e transversal.

Danilo Ramos
Formado em psicologia com especialização em Ciências Sociais, atua em movimentos e entidades de Direitos Humanos CEDECA Sapopemba. Desde 2002 participa como membro fundador do coletivo de trabalhadores “Terreiro de Mauá“, Desde 2011 integra o Bloco de Samba “Pega o Lenço e Vai“. Integra o Bloco de Folia Protesto EURECA. Gestor e colaborador do CCDL (Centro de Formação, Produção e Difusão Cultural Dona Leonor). Integra o elenco e o corpo musical da peça “É Samba na Veia,
É Candeia“, direção de Leonardo Karasek.

Jair de Oliveira
Sambista. Aos 16 anos passou a compor um Grupo de Samba fazendo bailes de carnaval. Em 1982 ganhou com sua composição a disputa para o carnaval da mesma escola de samba Estação Primeira de Santo André, com o enredo “A Ira das Vinhas“, defendeu o samba na avenida e a escola foi campeã. Frequenta praticamente todas as Rodas de Samba das Comunidades de SP. Por sua popularidade no universo do samba, foi convidado pelo diretor Leonardo Karasek para compor o elenco da peça “É Samba na Veia, É Candeia“.

Rita Teles
Atriz, arte educadora, produtora, idealizadora do projeto Oficinas de Vivência teatral, atua em instituições públicas, privadas, ONG’s e curso de formação de atores. Compõe a Cia. Colhendo Contos e Diáspora Negra e da Companhia Alvorada de Teatro. Pesquisadora de dança negra contemporânea. Compõe o corpo de dança do Bloco Afroafirmativo Ilú Inã e o corpo percussivo Ilú Obá de Mim. Integra a Companhia Alvorada como atriz e produtora. Atualmente compõe o elenco da peça “É Samba na Veia, É Candeia“.

Jojo Brownie Souza
Atriz, palhaça, contadora de história infanto-juvenil, pesquisadora da máscara do palhaço em relação à religião de matriz africana e o corpo negro dançante. Militante da causa negra e contra qualquer tipo de preconceito, integra o Coletivo Humor Negro, onde usa a linguagem do circo teatro, para trazer o tema genocídio da população negra, a solidão da mulher negra e outros preconceitos. Integra a Companhia Alvorada e atuou no espetáculo “É Samba na Veia, É Candeia“.

Sueli Vargas
Cantora, iniciou sua carreira nos anos 70 em SP. Viveu por 10 anos em Portugal atuando no complexo turístico e cantando também por outros países da Europa. Sua afinidade com o país levou-a a desenvolver um repertório como “fadista“ se apresentando nos mais tradicionais espaços de música portuguesa. Foi protagonista do espetáculo “Amalia“ Atua no “Movimento Sociocultural Amigas do Samba“ e como atriz e cantora no projeto Trovadores Urbanos. Por sua experiência, foi convidada pelo diretor Leonardo Karasek a integrar o elenco da peça “É Samba Na Veia, É Candeia“.
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