Jair Araújo da Costa, conhecido como Jair do Cavaquinho, (Rio de Janeiro, 26 de abril de 1922 – Rio de Janeiro, 6 de abril de 2006), foi um cantor, compositor e instrumentista brasileiro. Fez parte da ala de compositores da escola de samba Portela e integrou os conjuntos A Voz do Morro, Os Cinco Crioulos, Os Cinco Só, além da Velha-Guarda da Portela

Biografia
Jair de Araújo Costa (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1922 – idem 2006). Cantor, compositor, instrumentista e dançarino. Aos sete anos, participa do bloco Vai como Pode, liderado por Paulo da Portela (1901-1949), que dá origem à escola de samba Portela. Aos dez, levado pela mãe – que desfila na ala das baianas – e pelas irmãs mais velhas, passa a frequentar os ensaios da Portela, sendo escolhido como mascote da escola e sócio número 1.

Escreve seu primeiro samba, Você Não Soube Ser Mulher, em 1958, gravado apenas em 2002, por ele mesmo. Com Jamelão (1913-2008), compõe Meu Barracão de Zinco (1961), interpretado pelo próprio Jamelão. Em 1965, é convidado por Hermínio Bello de Carvalho (1935) e Kléber Santos para participar como músico do musical Rosa de Ouro, no Teatro Jovem do Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, Elizeth Cardoso (1920-1990) grava Elizeth Sobe o Morro, e inclui no disco quatro sambas de Jair, compostos em 1965: Vou Partir, com Nelson Cavaquinho (1911-1986); Meu Viver, com Elton Medeiros e Kléber Santos; Ele Deixou, com Nelson Sargento; e Pecadora, com Joãozinho da Pecadora. Integra o conjunto A Voz do Morro, ao lado de Zé Kéti (1921-1999), e participa da gravação do LP Roda de Samba – volumes 1 e 2, disco de estreia de Paulinho da Viola (1942) como compositor.

Jair do Cavaquinho integra o conjunto Os Cinco Crioulos, entre 1967 e 1969, com Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Anescarzinho do Salgueiro e Nelson Sargento, ex-membros de a Voz do Morro, e grava três discos pela Odeon. Paralelamente, participa do conjunto Rosa de Ouro, no espetáculo Mudando de Conversa, ao lado de Clementina de Jesus (1902-1987), Cyro Monteiro (1913-1973) e Nora Ney (1922-2003). Sua composição E a Rosa Voltou (1967) é incluída no LP Rosa de Ouro – volume 2. Em 1970, Elizeth Cardoso grava Você Foi um Atraso em Meu Caminho, de Jair e Picolino, da Portela, em seu LP Falou e Disse.

Com o conjunto Os Cinco Só, lança um LP pela CBS, ao lado de Zuzuca do Salgueiro, Zito, Wilson Moreira e Velha, em 1971. Ainda na década de 1970, forma o Trio Canela, ao lado de Osvaldinho da Cuíca e Osmar do Cavaco. Nas décadas de 1980 e 1990, apresenta-se na Velha Guarda da Portela, com a gravação do disco Homenagem a Paulo da Portela, produzido pelo japonês Katsonuri Tanaka. Participa do CD Tudo Azul, em 2000, também da velha guarda, produzido por Marisa Monte. Nesse mesmo ano, Marquinhos de Oswaldo Cruz grava Enquanto a Cidade Dorme, parceria com Nelson Cavaquinho, já gravada em 1975 por Aroldo Santos.

Seu primeiro CD solo, Seu Jair do Cavaquinho, é lançado em 2002, pela EMI, com composições inéditas e participação de Cristina Buarque (1950), Mônica Salmaso (1971) e Teresa Cristina. O show de lançamento, em parceria com Argemiro Patrocínio, conta com Marisa Monte (1967). Em 2005, participa dos documentários É de Terra, de Janaína Diniz Guerra, e O Mistério do Samba, sobre a Velha Guarda da Portela. Apresenta-se também no bar Carioca da Gema, em homenagem ao seu aniversário de 85 anos.

Análise da trajetória
Jair do Cavaquinho, apesar de ter lançado apenas um disco solo, perto de completar 80 anos, possui uma diversificada atuação no mundo da música. Sua história confunde-se com a da escola de samba da qual participa desde criança, a Portela. Autodidata, aprende a tocar cavaquinho e percussão. Convive com todos os principais líderes da Portela e recebe seu apelido pela destreza com que toca o cavaquinho. Adolescente, é escolhido como primeiro cavaquinhista da escola de samba, tocando nas festas e ensaios, além de participar dos desfiles, incluindo o único heptacampeonato da história do Carnaval carioca, entre 1941 e 1947. Nos anos 1950, é elogiado por Jacob do Bandolim por sua técnica singular e pela maneira de empunhar o instrumento, tendo uma das melhores palhetas para se tocar samba no Rio de Janeiro.

Membro da Ala de Compositores da Portela por mais de 50 anos e da Velha Guarda da Portela por mais de 20, Jair divide seu tempo entre a escola de samba e o emprego como contínuo na Secretaria de Viação e Obras da Prefeitura do Rio de Janeiro. Exímio dançarino, é um dos últimos mestres do “miudinho”, ou do sapateado do samba. No “miudinho”, os pés buscam uma sincronia com a música executada, seguem a batida do pandeiro, o fraseado do violão e do cavaquinho; outras vezes, eles quebram o ritmo com outra batida, como no início de um novo assunto ou de uma nova frase musical.1

No início da década de 1960, Jair é um dos frequentadores do restaurante Zicartola. Conhece intelectuais e compositores, e atua como músico da casa ao lado de Zé Kéti, Oscar Bigode, José Cruz, Nelson Sargento, Paulinho da Viola, Anescarzinho do Salgueiro e Elton Medeiros. Também participa de importantes conjuntos, como Rosa de Ouro, Os Cinco Crioulos, A Voz do Morro, Os Cinco Só e Trio Canela umainiciativa de revalorização do samba tradicional, em que são registradas pela primeira vez composições de sambistas excluídos da indústria fonográfica e desconhecidos do grande público. Posteriormente, eles atraem a atenção de nomes da MPB, como Nara Leão e Elizeth Cardoso.

Apesar de pertencer à Portela durante toda a vida, compõe apenas um samba-enredo para a escola: As Treze Naus (1969). Jair não deixa uma obra vasta, já que são gravadas menos de 40 canções suas. Em destaque estão os sambas interpretados por Elizeth Cardoso, como Vou Partir (1965): “Vou partir / não sei se voltarei… / Tu não me queiras mal / Hoje é Carnaval” e Pecadora (1965):

“Vai, pecadora arrependida
Vai tratar da tua vida
Por favor, me deixe em paz
Tu me deste um grande desgosto
Eu não quero ver teu rosto
Palavra de rei não volta atrás
Eu quero um amor perfeito
Para aliviar meu peito
Que por ti já padeceu demais”.

Seu único CD solo traz suas principais composições. É feito um passeio por várias vertentes do samba, como o samba rural e religioso presente em Acorda, Negro Velho (2002), gravado com atabaques e com versos responsoriais repetidos pelo coro, como nas ladainhas. Há sambas de inspiração romântica, como em Francamente (2002), Eu e as Rosas (2002), Meu Coração Quase Parou (2002) e Desgosto Profundo (2002), todos com arranjos de choro, com clarinetes, flautas e sax tenor. Também flerta com a música nordestina, no xote Soltaram Minha Boiada (2002), gravado com acordeom, triângulo e viola caipira. Esse disco é uma das poucas oportunidades para se ouvir o registro de Jair do Cavaquinho como cantor solista, com sua voz anasalada e elegante, marcada pela idade.

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