‘Eu não sou santo’

Bezerra da Silva, monstro sagrado do coco e do partido alto, cantou como ninguém as agruras, misérias, percalços, reviravoltas, malandragem, safadezas, irreverências e desatinos do povo que leva bordoada do Estado, da polícia e da vida todos os dias. Não à toa era era ligado à macumba – que o salvou de um suicídio quando era morador de rua. Foi um artista underground, nunca festejado pelas “majors”, escamoteava o nome de seus compositores pra não entregar de bandeja. Desceu o sarrafo na pior raça que existe: o cagüeta. De acordo com Dicró, foi tão malandro que até a data de sua morte foi 171 (no dia 17 de janeiro). Lia música, tocava tudo que era instrumento de percussão, pisava forte no terreiro, cantava o Brasil das quebradas e terreiros. Gravou quase 30 discos, os últimos dois muito chatos, depois de sua conversão religiosa – que acabou o descaracterizando. Bezerra foi grande, e no meio dessa polêmica babaca e intolerante em tempos de um país cada vez mais “carola”, é de bom tom relembrar o malandro e a antológico “Eu não sou santo“, cuja capa polêmica tinha Bezerra da Silva, que é negro, descalço, com calça branca, boina branca, camisa listrada de vermelho e branco, com uma arma em cada mão, duas outras na cintura e um cinteiro de munição pendurado no ombro. Ele está crucificado em uma cruz de madeira. Por trás deste cristo, em segundo plano, há o recorte de uma favela em contraste com o céu. No alto da cruz, os dizeres “Eu não sou santo”. A intensidade daquelas imagens impressiona, e a música que toca lá dentro, mais ainda. Vamos ouvir.


LADO A:

1 – QUANDO O MORCEGO DOAR SANGUE Cosme Diniz – Rosemberg

2 – O PRETO E O BRANCO Carlinhos Russo – Zezinho do Valle – J. Laureano

3 – MUDO CAGÜETE Pedro Butina – Cosme e Damião

4 – VOVÔ TIRA-TIRA Pedro Butina – Guilherme do Ponto-Chic

5 – BOCA DE RADAR Silvio Modesto – Capri

6 – EU NÃO SOU SANTO Adelzonilton – Nilo Dias – Criolo Doido

LADO B:

1 – SE NÃO AVISAR O BICHO PEGA Jorge Carioca – Marquinho PQD – Marcinho – Participação Especial Genaro

2 – PASSA O RODO NELE Nilo Dias – Nilson Reza Forte – Titio do Pandeiro

3 – DIVINO MESTRE Ewandro de Mattos – Wilson Calazans

4 – O FILHO DE JUREMÁ Bezerra da Silva – Regina do Bezerra

5 – CACHORRINHO DE POLÍCIA Pedro Butina – Pinga – Rodi do Jacarezinho

6 – O POETA OPERÁRIO Romildo – Ney Alberto


RCA – 130.0115, LP

Diretor Artístico: Miguel Plopschi
Produção Executiva: Aramis Barros
Ass. de Produção: Genaro Soalheiro
Arranjos e Regências : José Menezes
Técnico de Gravação e Mixagem : Luiz Carlos T. Reis
Assistentes Técnicos : Luiz Carlos Rodrigues – César Delano – Ronaldo Lima – Dalmo Beloti
Manutenção do Estúdio : Ricardo Luppi – Victor Carmona – Duarte Silveira – Francisco Eudes
Montagem : Esveraldo Ferreira
Supervisão do Estúdio : Edeltrudes Marques
Corte : José Oswaldo Martins – Orlando Leme – Paulo Torres
Arregimentação : Gilberto D’Ávila
Coor. de Catálogo : Genilson Barbosa
Fotos : Wilton Montenegro
Capa : André Teixeira – Wilton Montenegro
Inspiração da Capa : Adelzonilton
Cenário : Léo Rabacov

Músicos:
Dino – violão
Carlinhos – cavaco
Zé Menezes – solos de cavaquinho
Papão – bateria
Gordinho – surdo
Biriba – pandeiro
Beterlau – agogô
Jorge “Bunitinho” – repique de mão
Neném – cuíca
Barbosa – reco
Genaro – ganzá
Bezerra da Silva – Thalamy – Sula – Stênio – Jorge Garcia – Rogério – Jorge “Bunitinho” – Guaracy – Geraldo Bongô – tamborins
Genaro – Bezerra da Silva – Thalamy – Alemão – triguilos
Geraldo Bongô – Bezerra da Silva – tumbadora
Bezerra da Silva – pandeiro de partido
As Gatas: Dinorah – Eurídice – Zenilda – Zélia – Francinete – coro
Os Gatunos: Barbosa – Gordinho – Genaro – Stênio – Copacabana – Tufic – Biriba – coro

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