Martinho José Ferreira nasceu em Duas Barras, Rio de Janeiro, em 12 de fevereiro de 1938. Filho de Tereza de Jesus e Josué Ferreira, lavradores da Fazenda do Cedro Grande, veio para o Rio de Janeiro com apenas quatro anos. Quando se tornou conhecido, voltou à sua cidade natal para ser homenageado pela prefeitura. Descobriu que a casa em que nasceu estava à venda e não hesitou em comprá-la. Hoje a propriedade não mais lhe pertence. Doou a Fazenda Cedro Grande para o ICMV (Instituto Cultural Martinho da Vila).
Cidadão carioca criado na Serra dos Pretos Forros ( Boca do Mato – Lins de Vasconcelos ), sua primeira profissão foi a de Auxiliar de Químico Industrial, com diploma adquirido em curso intensivo do SENAI, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
Arrimo de família, alistou-se no Exército como voluntário no Segundo Batalhão de Carros de Combate, destinado ao LQFE (Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército), onde pretendia ser funcionário público, mas decidiu-se pela carreira militar. Foi cabo, sargento e cursou a Escola de Instrução Especializada, onde se formou em contabilidade. Exerceu funções burocráticas na DGEC (Diretoria Geral de Engenharia e Comunicações) como escrevente-contador e pediu baixa para se tornar cantor profissional.
O artista surgiu para o grande público no III Festival de MPB da TV Record, em 1967, quando apresentou o partido-alto Menina Moça e no ano seguinte, na quarta edição do mesmo festival, lançou o clássico Casa de Bamba, seu primeiro sucesso, seguido de O Pequeno Burguês.
Em 1969 gravou o LP intitulado Martinho da Vila, que atingiu o primeiro lugar na parada musical em execução radiofônica e foi recordista em vendagem naquele ano.
Pai de 8 filhos – Martinho Antônio, Analimar, Mart’nália, Juliana, Tunico, Maíra, Preto e Alegria – Martinho conservou o estado civil de solteiro até conhecer Cléo, no final da década de oitenta. Para compensar , em maio de 1993, casou-se duas vezes com Clediomar Corrêa Liscano, a Cléo que virou Ferreira, no civil no dia 13 e no religioso no dia 31. E foi o próprio Martinho quem manuscreveu o convite aos amigos. Cléo é mãe de seus dois filhos mais novos.
Logo se tornou um artista conceituado e ganhou muitos prêmios pela qualidade do conjunto da obra, além de ter sido um dos maiores vendedores de disco no Brasil. Em 1995, com o CD Tá delícia, Tá gostoso, consagrou-se como o primeiro sambista a ultrapassar a marca de um milhão de cópias vendidas em tempo recorde.
Ativista cultural, foi membro do Conselho Estadual de Cultura e da Comissão de Apoio à Cultura, do MInC.
Foi responsável pelo projeto O Canto Livre de Angola que, em 1982, trouxe os primeiro artistas africanos ao Brasil. Liderou também o Grupo Kizomba, promotor do pioneiro “Encontros Internacionais de Artes Negra”.
Recebeu o título honorário de Embaixador Cultural de Angola e Embaixador da Boa Vontade da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), por ser um incentivador das relações lingüísticas do português e divulgador da lusofonia.
No Brasil foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura e recebeu as comendas mineiras Tiradentes e JK. É Comendador da República da Ordem do Barão do Rio Branco, em grau de Oficial.
Sua vida de compositor começou na extinta Escola de Samba Aprendizes da Boca do Mato.
Ingressou e passou a dedicar-se de corpo e alma à Escola do Bairro de Noel em 1965 e a história da Unidos de Vila Isabel se confunde com a de Martinho que passou a ser chamado o Da Vila. Nunca exerceu oficialmente a presidência administrativa da escola, mas por várias vezes esteve à frente da agremiação da qual é o Presidente de Honra, com busto de bronze na entrada da quadra de ensaios e eventos.
Os sambas de enredo mais consagrados da escola são de sua autoria, dentre os quais Iaá do Cais Dourado, Sonho de Um Sonho, Raíses (Antológico samba-enredo sem rimas ). Também criou vários temas para desfiles, dentre os quais Kizomba, a Festa da Raça que está entre os mais memoráveis da história dos carnavais e garantiu para a Vila, em 1988, seu consagrado título de Campeã do Centenário da Abolição da Escravatura. Também colaborou na criação de outros temas, entre os quais o Soy Loco Por Ti América, que deu a Vila o título máximo do carnaval de 2006 e é co-autor do enredo e também do samba-enredo A Vila Canta o Brasil, Celeiro do Mundo, campeão de 2013.
Nacionalmente conhecido como sambista, Martinho da Vila é um legítimo representante da MPB, com várias composições gravadas por cantores e cantoras de diversas vertentes musicais, intérpretes consagrados no Brasil.
Artistas de renome internacional como Nana Mouskouri (Grécia), Ornella Vanoni (Itália), Kátia Guerreiro (Portugal), Rosário Flores e Julio Iglesias (Espanha) e de outras nacionalidades já colocaram voz em suas criações. Como intérprete é considerado por muito críticos como o melhor cantor do Brasil, por interpretar músicas dos mais variados ritmos.
Embora seja músico, cantor e compositor indutivo, tem uma vasta cultura musical, com grande ligação com a música erudita. Participou do projeto sinfônico Clássicos do Samba sob a regência do saudoso Maestro Sílvio Barbato, apresentou-se com diversas orquestras sinfônicas, bem como com a Campesina de Friburgo, conceituada banda sinfônica e com a Orfeônica da Dinamarca.
Idealizou, em parceria com o Maestro Leonardo Bruno, o Concerto Negro, espetáculo sinfônico que enfoca a participação do negro na música erudita.
É escritor de livros infantis, infant-juvenil, biografias e romances. É membro efetivo da Academia Carioca de Letras, do PEN CLUB e da Divine Académie Française des Arts, Letres e Culture.